domingo, 16 de outubro de 2011

O IVA, os livros e as corporações

Álvaro Covões, conhecido promotor de concertos pop/rock, queixa-se na rádio da subida do IVA dos bilhetes para espectáculos. Na peça que ouvi, a sua indignação ia a par com a inveja corporativa, como é bom costume português. Covões lamentava tanto o contratempo para o seu negócio como a manutenção do IVA a 5% para os livros. Uma injustiça clamorosa que nas suas palavras só se explica porque, claro, o Secretário de Estado da Cultura é na vida civil escritor e editor.
Os corporativistas têm dificuldade em ver as acções dos outros sob uma luz diferente da que ilumina as suas. Para Covões, Francisco José Viegas decidiu assim para benefício do seu mester — não porque tenha uma estratégia cultural.
Eu próprio tenho muitas dúvidas sobre qual seja a estratégia cultural desta Secretaria de Estado (sobre a sua estratégia económica estou esclarecido), mas não vejo razões sérias para discordar de que o livro deve ser uma prioridade. Deste e de qualquer governo, em qualquer época e circunstância. Se há margem para manter o IVA no escalão mais baixo apenas para um sector, ele que seja evidentemente o do livro. Um país pode ficar mais triste sem os concertos que Álvaro Covões promove — mas sem livros fica por certo mais estúpido.