terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Cultura, no imediato

João Carvalho, no Delito de Opinião, tem ideias sobre Cultura. A mais esclarecedora diz que «a Cultura não dá de comer no imediato a quem tem fome». É todo um programa.
Nesta, como noutras matérias, o blogger é feroz apoiante do Governo. Por alguma acção em concreto? Não. «A Cultura institucional está entregue a um homem de cultura que nada tem a provar para fazer currículo. Chega-me.»
O Secretário de Estado nada tem a provar, portanto. Em caso de dúvidas, basta-lhe abanar o currículo nas ventas dos críticos. (O que, sendo Verão, até ajudava a poupar no ar condicionado). Mas já que Carvalho se satisfaz com pouco (é mais um adepto da frugalidade) e chegando-lhe o perfil do Secretário de Estado, não estaria disposto a aceitar uma silhueta recortada em cartão? Ainda seria mais económico.

João Carvalho não apoia veleidades na área da Cultura porque, enquanto apreciador do Secretário de Estado, quer protegê-lo duma doença que afecta «a mais distinta intelectualidade da nossa praça». Parece que «os mais iluminados, quando se vêem a decidir, perdem depressa a imaginação criadora e a acção raramente ultrapassa a simples distribuição de verbas». Pelo sim, pelo não, abstenha-se a Secretaria de «ideias geniais». Talvez um diploma emoldurado na parede chegasse para o serviço que é necessário.

Mas será o cheque em branco de Carvalho uma apologia da inércia? Não, nada disso. Na verdade, há acções da Secretaria de Estado da Cultura que João Carvalho aplaude vigorosamente. O seu post, de resto, é espoletado por uma dessas acções: o despedimento de Diogo Infante. Claro que, em rigor, decisões do género (mesmo que correctas) não são exactamente medidas culturais, mas actos administrativos. Ora aqui é que bate o ponto: depois de um currículo, a opção de João Carvalho para a Secretaria era talvez um mangas-de-alpaca, alguém com jeito para subtracções e sem o perigo das ideias.