quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Pseudo

Há palavras fetiche. Pseudo não chega a ser uma palavra, mas é um elemento de adjectivação que muitos gostam de cometer. O seu uso mais frequente é como prefixo da palavra intelectual. Ninguém é intelectual hoje em dia, os que estão mais próximos disso são pseudo-intelectuais. Ora, tendo em conta o valor semântico actual do termo, tendo em conta que não é bem visto ser-se intelectual, chamarem pseudo-intelectual a alguém até pareceria uma demonstração de apreço. Contudo, a gramática leva ainda mais voltas, e se intelectual é já insulto, pseudo-intelectual é, do ponto de vista da intenção, duplamente insultuoso. Como doido-varrido. Ou besta-quadrada. No uso do vulgo, pseudo não qualifica de falso o termo que lhe sucede, com a intenção de negar a suposta virtude ao alvo, mas reforça a conotação pejorativa que a palavra tem na nova língua comum.
As ocorrências do fenómeno com que deparei mais recentemente relacionavam-se, é curioso, com a mesma pessoa. Um simpatizante do Secretário de Estado da Cultura classificava de «pseudo-críticos» os tipos que questionavam a actuação do Governo neste campo. Já uma subscritora da petição «As Artes e a Cultura para além da crise» (uma pseudo-crítica, portanto) apelidava Francisco José Viegas de «pseudo-escritor».

É divertido que utilizem a língua desta forma erudita pessoas que pretendem ter ideias para a Cultura.