quinta-feira, 12 de abril de 2012

O cantinho do hooligan (II)

Sou desde há muito admirador de Francisco José Viegas. Não me custa o termo. Dos livros e sobretudo das revistas e da editora que dirigiu. Mas, pôrra, se ele não queria ser ministro, podia ter deixado ir alguém no lugar dele. Escusava de ter pedido um downgrade como quem pede ostras. (Parece contraditório, mas o serviço era à la carte.)
A vantagem de termos um escritor em vez de um contabilista na SEC foi aprendermos a soletrar correctamente «não-há-di-nhei-ro» — com sílabas, em vez algarismos.
Fora isso, que diferença teria feito se um qualquer corta-relvas tivesse assumido o cargo?
Antes das eleições, FJV queixava-se ao “I” do financiamento municipal à música pimba. Pois tenho boas notícias para ele: a curto prazo, o financiamento da cultura pimba será todo o investimento que as câmaras farão na cultura. Não porque sejam particularmente inclinadas para isso (são-no), mas porque cessou nesta legislatura qualquer estímulo que pudesse haver em sentido contrário. E quando falo em estímulo não me refiro ao dinheiro do Estado (que, de resto, não existia nas legislaturas anteriores). Estou a pensar num discurso favorável à cultura em vez de um que a estigmatiza e torna (mais) impopular. Estou a pensar no QREN, numa ínfima parcela dele.
Bem sei que a audiência de FJV é uma meia dúzia de blogues conservadores e francamente relutantes no que toca a tirar o cu do sofá, mas há um país para lá deles. Ok, um país que na sua maioria fica satisfeito com uma ocupação pimba dos equipamentos municipais. Mas, pôrra outra vez, se a ideia era desistir do interior talvez pudessem ter evitado um gajo do Pocinho, não?  

2 comentários:

  1. também acho que foi um erro o Francisco ter aceite o cargo.

    e até tinha um argumento, a passagem de ministério a secretaria de estado.

    mas acho que ele pensava que ia fazer alguma coisa de positivo, para além de tentar acabar com os "subsídio-militantes", que existem de norte a sul.

    infelizmente até com estes ataques está errado, porque o país precisa de ter teatro, música, cinema, etc, de qualidade, porque o gosto das pessoas não pode ser moldado apenas uma televisão que é em muitos aspectos pior que a que existia antes de 1974.

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  2. Obrigado pelo comentário.
    Os ataques à “subsidiodependência”, aqui e ali pertinentes, foram só uma forma de deitar fora o menino com a água do banho. Uma posição ideológica estúpida e ignorante. Podemos chamar-lhe uma “utopia” da direita portuguesa. Nos raros casos em que na direita concordam sinceramente que «o país precisa de ter teatro, música, cinema, etc., de qualidade», como julgo que o FJV concorda, há demasiada ingenuidade e desconhecimento. Com a televisão e a imprensa que temos, e agora com o discurso político maioritário que temos, só nos sonhos mais delirantes haverá um dia público ou mecenato que sustentem financeiramente as artes. O que vamos ter, particularmente na província, é uma versão actualizada dos anos 60: folclore, amadorismo local da mais fraca qualidade e pertinência, pimba e digressões nacionais já não de revista à portuguesa, mas de comédias mediáticas, simplórias e muitas vezes brejeiras, com vedetas televisivas no elenco. E talvez algum pop/rock.
    Não deixa de ser sintomático que a única intervenção da SEC que conheço em relação ao interior tenha sido suficientemente desajeitada, paternalista e sem conteúdo para caber neste movimento retro.

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