quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os amigos de Lúcio (3): Óscar

«O Óscar é um rústico com os trajes de um dandy. Tem o rosto e os braços morenos de um trabalhador do campo — um daqueles antigos e feios criados de quinta, com genes e dentição imperfeitos, olhos escuros, desconfiados —, mas veste belos casacos e blusões, em tons por vezes improváveis. Na Suíça, onde viveu e trabalhou, reformaram-no compulsivamente e asseguraram-se que ele entrava no comboio. Um distúrbio qualquer, uma incapacidade permanente. Preferiram ficar a pagar para o ver longe. Ainda assim, esteve lá tempo que chegasse para adquirir modos e tiques urbanos, para copiar posturas e requebros que o seu escanzelado couro de servo da gleba interpreta como pode. Fuma como um actor da idade de ouro de Hollywood, encostado de mão no bolso aos umbrais das portas, à mobília das salas, mas ri, nas raras vezes que o faz, como todos os seus boçais antepassados — e as mulas que montavam.»

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