sexta-feira, 11 de abril de 2014

Gel, mães e filhos (1)

Uma jovem mãe percorre as prateleiras do supermercado com o telemóvel na orelha. Procura um gel para o cabelo e percebe-se que, com branda resistência, está a ser dirigida remotamente pelo filho adolescente. Efeito molhado, fixação normal, forte ou extraforte, marcas, preços... As variáveis são muitas e é difícil encontrar um equilíbrio entre a exigência do rapaz e a carteira da mãe.
Não parece aborrecida com os caprichos do filho, talvez porque já teve ou testemunhou experiências piores. Protagonizadas por teenagers maldispostos, rudes, rufiões, que acompanham as mães às lojas como quem sequestra um desconhecido e o leva sob coacção ao multibanco mais próximo. Filhos que mandam calar as progenitoras e cospem em público ninguém te perguntou a opinião como bandidos sem paciência para as objecções patéticas e impertinentes das suas vítimas. E que, depois de escolherem algo da última moda para gangues (que um diligente criativo desenhou a pensar na globalização do Bronx), arrastam com maus modos a mãe para a caixa, deixando já adivinhar que à saída da loja atirarão com ela e a sua carteira vazia para uma valeta.

A mãe no supermercado fica por momentos esquecida a olhar carinhosamente a filha, talvez para afastar maus pensamentos. A rapariga, criança, entretém-se na secção de produtos para o rosto — não ainda a projectar-se na adolescência que tarda, mas porque as cores e as formas lhe parecem divertidas.

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