quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Salvar o mundo pela tesoura

Há muitos anos, quando eu acreditava que o mundo se salvava pela ironia ou o humor e tentava dar o meu contributo com diatribes a esmo, entusiasmando-me demasiado com elas, um bom amigo lembrou-me que procurar vencer ou ridicularizar alguém apontando aos seus atributos físicos era uma confissão involuntária de falta de argumentos, uma exibição de raciocínio e lógica medíocres e, ao fim e ao cabo, uma forma de cobardia. Ser manco, anão, corcunda, míope, careca ou conjunturalmente feio não eram opções das pessoas, não tinha sido obra sua, não as podíamos responsabilizar por isso e, o que mais importa, não era isso que fazia delas escroques.
Como se compreende, não é honesto e muito menos um sinal de superioridade chamar alguém de caixa-de-óculos, por exemplo. Mas pode-se criticar o gosto da pessoa na escolha dos óculos. Tal como não é justo rir de uma calva mas legítimo desaprovar o modelo do capachinho.
Ou seja, não podemos responsabilizar Donald Trump pelo seu fácies infeliz — mas não seremos racistas por reparar na cor da sua pele: tirando a possibilidade remota de ele sofrer de doença aparentada à de Michael Jackson (mesmos sintomas, diferente paleta), aquele tom é opção do utente. Já no que se refere ao formato do cabelo é não só legítimo mas imperativo relacionar o corte abstruso e pertinaz com as ideias cretinas que lhe povoam a cabecita.

A esperança da humanidade reside, portanto, na autoridade clínica do oftalmologista de Melania. Ou na Bíblia, designadamente no Livro dos Juízes, 13-16. Serão os eslovenos capazes de despertar fervor patriótico em Melanija Knavs e, sobretudo, terão 1100 moedas para a convencer a usar a tesoura como Dalila em Sansão?
Depois é só ter o cuidado de o afastar dos pilares que sustentam o templo. Que ele aliás já começou a derrubar, mesmo com a estúpida guedelha intacta.

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